quarta-feira, 4 de junho de 2008

A CHAVE MESTRA

Eram mais ou menos nove e meia da manhã, tempo ensolarado, mas nebulosa para mim que estava extremamente cansado dos últimos dois dias. A Igreja estava medianamente cheia, na fileira central havia mais gente, nas laterais havia apenas méia dúzia de pessoas que assistiam o culto. A escala de diáconos do mês de junho ainda não estava afixada no mural, mas como o culto da escola dominical é mais vazio e tranqüilo estava satisfeito em sentar no último banco, da última fila – próxima a porta de entrada – para que pudesse estar de sobreaviso, caso a pregadora ou o pastor precisassem de ajuda.

Enquanto a igreja lia um texto bíblico, um rapaz adentrou o templo. Parecia procurar alguma coisa ou alguém. Ainda não havia sido notado, exceto por mim que fiz um “psiu” quase inaudível mas suficiente para lhe chamar a atenção. Chamei para que se sentasse ao meu lado. Ele veio, cruzou os dedos, os meteu entre as pernas e, por alguns segundos, curvando seu pescoço, perguntou quem era o pastor.

Apontei para o homem sentado na primeira fileira e o rapaz torbou a perguntar se a igreja tem o costume de ajudar quem necessita.

Sem saber o que dizer, a única coisa que me veio à cabeça foi a caridosa igreja de Efésios, relatada no livro de Atos dos Apóstolos. Lembrei-me do trabalho social dos varões e o respondi afirmativamente.

Quando voltava a assistir o culto, notei que alguns jovens me olhavam com certa curiosidade, tentando descobrir quem era aquele visitante que trajava uma camiseta preta do Evanescence.

O braço direito trazia uma grande tatuagem tribal, que fazia par com o braço esquerdo todo marcado de costuras, pontos e marcas de tiro. Perguntei se ele já era cristão e disse que não – mas rapidamente completou que seu pai era da Renascer. Aliás, estava ali por sugestão dele, o qual lhe disse ser Deus a única solução para seu problema. Durante alguns minutos estivemos assistindo o culto até que passei a lhe perguntar o trivial: filhos, casamento, mora onde, “faz o quê”, até que o jovem parou por um tempo, olhou fixamente para o ar e resolveu tornar-se o inquiridor.

Devolveu-me o “faz o quê” – a pergunta que mais comum a mim nestes tempos – e respondi que estudava para concursos. Ele meneou com a cabeça rapidamente e repetiu minha resposta, quando interrompi seu suspiro para emendá-la dizendo que sou advogado.

Naquele momento, ele me olhou e seus olhos pareciam brilhar, começou perguntar minha idade, se eu era casado, se tinha filhos, se era noivo, se eu era membro daquela igreja mesmo e por fim, olhou para o lado esquerdo, colocou a mão na boca e me confidenciou:

- Cara... acho que você era a pessoa certa para mim falar. Eu passei quatro anos e meio no Carandiru por tráfico de drogas, mais alguns 121
* que eu cometi.

Geralmente, quando isso acontecia comigo na assistência judiciária eu regalava os olhos e exclamava com um enfático: “Oooooooohhhhhhhhhhhhhhhh”. Mas não havia tanta força para me surpreender naquela manhã, então apenas lancei um singelo “é mesmo?!” e voltei a assistir o culto.

O rapaz continuou a me contar sobre o que acontecia no Carandiru, sobre sua vida, o início de seu envolvimento com o tráfico, o que fazia antes e sobre seus pais. A igreja tem ajudado o rapaz. Não é nesta figura que eu quero focar.

Geralmente escrevo sobre questões de fé, e principalmente voltadas para quem já é cristão, está inserido no contexto de igreja e etc. Hoje meu desabafo terá um tom político.

Durante estes dias ando a pensar nos rumos que nosso país tem tomado e quais as soluções possíveis para que ele possa sair deste painel de corrupção e miséria. Sinceramente não tenho tido tanto ânimo quando analiso da ótica secular – e daí tudo volta à fé, religião e Deus.

A capa da Veja da semana passada fez um paralelo entre o país que temos e o país que queremos; a situação híbrida que torna o Brasil um país de primeiro mundo ao mesmo tempo em que o desclassifica como um terceiro mundo.

Os problemas estão aí. Todos sabem quais são. Temos Caos e CPIs para tudo. Temos um vergonhoso número de escândalos políticos e um (mais vergonhoso ainda) número de impunidade. Donos de um dos maiores PIBs do mundo, mas também senhores de altas taxa de criminalidade, mortalidade infantil, subnutrição, caos aéreos, fraudes e outro sem-fim de problemas. Parece faltar força de vontade ao país, faltar brio aos governantes (e nestas horas, a morte do Ilustre Sen. Jefferson Péres se faz cada vez mais sentida), parece faltar moral à nação.

Desta forma, assim como para o rapaz na igreja, para o Brasil não há outra solução senão Jesus Cristo. Será que a nação cujo Deus é o SENHOR é uma nação sem rumos, sem futuro, sem perspectivas? De fato, ainda não podemos ver esta realidade pela ótica humana, mas podemos ver pela fé profetizar o versículo “Feliz a nação cujo Deus é o Senhor, e o povo que Ele escolheu para Sua herança.” (Sl. 33:12).

Essa visitação do SENHOR era o que eu pensava enquanto me dirigia ao carro após o cursinho. Precisamos de um avivamento em nosso país urgentemente; precisamos de um avivamento em Goiânia. Há quem diga que estamos vivenciando um, mas a cada dia que passa sou obrigado a discordar desta afirmação. Nós vivemos uma era de fashion cristianism, onde a moda é ser crente. A Gretchen é, a Monique Evans é, a Leila Lopes é... e todas fazem ensaios e filmes sensuais. Daí me pergunto: “este é o tipo de cristianismo que vai trazer Deus para o senhorio de nosso país?” Estou certo que não.

Outra barreira a esta vinda do Espírito Santo sobre nós é a proliferação de denominações. Não recrimino a quantidade de nomes (e alguns até estranhos) e templos que surgiram, mas não entendo uma coisa: “se Deus é um só, se Jesus orou para sermos um assim como Ele é com o Pai, então porque nossas igrejas digladiam na busca de membros? Porque elas falam mal umas das outras para atrair os membros menos resolutos? Sinceramente vejo que não foi essa a intenção de Jesus ao orar pela unidade do corpo...

Quando a presença de Deus está em um país, quando começamos a vivenciar a promessa do Sl.33:12 e então vemos significativas (e positivíssimas) mudanças. Desde saneamento básico até a credibilidade no mercado externo elas ocorrerão. Deixaremos de ser um potencial para nos tornar em realidade; quiçá (e digo este “quiçá” apenas por charme, pois tenho plena certeza!) deixaremos de ser cauda para sermos cabeça!

Não há solução para mim, para você, para o jovem que cumpriu pena no Carandiru e precisa alimentar seus quatro filhos, não há outra solução para o Brasil; a chave mestra para tudo e todos é o Senhor Jesus!



* Refere-se ao crime de homicídio, previsto no artigo 121 do Código Penal Brasileiro.

2 comentários:

Anônimo disse...

O mundo precisa saber disso... :(

Ótima dissertação..!

Abraços

... disse...

(um pensamento silencioso,
mas com a força de um grito...)

amém...