quinta-feira, 15 de maio de 2008

RAZÕES PARA MORRER

Já contei esta história em blogs anteriores, mas gosto dela. Também aviso de antemão que sou como os velhinhos que contam a mesma mil vezes. Conto, reconto, “triconto” e por fim pergunto cretinamente: “Já te contei essa história?” Depois da resposta afirmativa dou uma réplica ainda mais desavergonhada: “Ahhhh jááááá?! Então vou contar novamente!”

Certa vez, nos EUA, em uma cidade chamada Harrison localizada nos arredores de New York, lia um livro enquanto esperava a Van que nos buscava para irmos à igreja diariamente. O livro, destes comprados em bancas de revistas por R$ 2,99, contava a história de um agente secreto que imitava com uma classe esdrúxula o ímpar James Bond.

Em resumo, a parte que interessa a nós é quando um representante do Governo, ao oferecer um serviço ao espião, pergunta se ele não tinha medo de morrer. E então com uma cara de bonachão responde: “A vida só tem razão se houver um motivo pelo qual valha à pena morrer”.

Levantei a cabeça, impressionado com aquela frase de efeito, e respirei fundo enquanto observava os coreanos descendo a ladeira de patinete, não obstante seus cabelos e ternos impecáveis com um notebook a tiracolo. Confesso que não esperava uma frase daquela magnitude logo pela manhã.

Num lapso de segundo toda minha vida cristã passou como um flash, como um filme cujo o final era uma análise à luz daquelas palavras: minha vida tinha um motivo para viver?! Eu tinha um motivo para morrer? Pensei sobre o fim dos tempos, mesmo na mente adolescente formada pelas aulas de Escola Bíblica Dominical, misturada com alguns mitos e terrores que o Apocalipse nos incute; pensei nos últimos meses e me dei conta de quanto minha vida era sem sentido se observada por este ângulo.

Ora... manhãs no colégio, tardes estudando e jogando bola, cinema no sábado e cultos ao domingo não pareciam ter tanto sentido do ponto de vista da eternidade. Talvez hoje eu dissesse “a frase” do filme Gladiador: “o que fazemos nessa vida repercute na eternidade”.

O tempo que estive na América foi o mais marcante de minha vida, e talvez muitos me acusem de antipatriotismo, mas não foi pelo fato de estar nos EUA. Mas foi o tempo em que conheci o Espírito Santo. Ainda não era batizado no Espírito, mas em certas reuniões eu presenciava uma presença divina como ainda não conhecia. Algo que realmente levarei comigo durante toda minha vida pela intensidade como Deus se revelou em certas ocasiões.

Não vou ficar nesse saudosismo. Vamos adiante.

Essa semana, me encontrei com um povo muito querido, irmãos que tem entregado suas vidas a uma causa que popularmente chamaríamos de “nobre”. O Pr. Nivaldo , Pr. Osney e seus discípulos africanos. Este segundo pastor, juntamente com sua família, tem dedicado sua vida a uma missão que poucos querem: salvar vidas na Africa. E digo mais: salvar em dois aspectos: tanto fisicamente ao dar comida, ensiná-los a cultivar, ao ajudar em suas necessidades, como espiritualmente, pregando-lhes a palavra de Deus.

Durante alguns minutos que nos vimos, perguntei-lhe como estavam as coisas na África e ele respondeu: “Estão muito bem! Deus tem abençoado muito!” E instantaneamente vi um brilho nos seus olhos que revelavam o amor que sente por aquilo que faz. Eram palavras efusivas que ecoavam naquela pequena sala.

Sob uma ótica humana, seria até irônico ele dizer que “estava tudo bem” de forma tão eloqüente, tal as dificuldades que havia passado nos últimos tempos. Este servo do SENHOR esteve muito doente no ano passado e recentemente sua família esteve gravemente adoentada pela Malária.
Mas ele não analisa sob estas lentes. Ele tem uma direção clara sobre o que foi chamado, ele tem um motivo para viver e, mesmo sem perguntar, digo que certamente tem um motivo pelo qual morrer. Ele prega no meio de povos Massai (aqueles que nós vemos em filmes do Indiana Jones, com lanças, escudos e com a pele da cor da noite); ele deixou todo o seu conforto para levar a Palavra de Deus para os africanos. Ele mortifica seu “eu” diariamente para que outros tivessem salvação. Além do fato que rotineiramente missionários cristãos são mortos ao redor do mundo por causa do evangelho de Cristo.

Novamente no Brasil, dias atrás, no caminho do squash, ouvia o Pr. Aluízio pregar no rádio sobre a cruz. Em dado momento ele afirmou que cada vez que nos dispomos a fazer a obra de Deus, negando assim, a nossa carne, estamos morrendo. A cada vez que nos dispomos a consolidar um irmão, a pregar o evangelho, a fazer a obra, a orar (!), estamos morrendo para que outros tenham a vida eterna.

Logo, penso: minha vida tem refletido na eternidade? Ela tem honrado a Deus? Tenho cumprido a Sua vontade? Tenho morrido para que outros tenham vida?

Fazemos muito pouco e nos contentamos. O pior não é fazermos pouco, mas é contentarmos com isso. Não prego o ativismo desenfreado, pois ele é tão nocivo quanto nossa inércia. Mas a questão é: temos uma direção clara sobre o objetivo das nossas vidas? Temos um ciência do papel que Deus nos deu para desempenharmos neste mundo?

Irmãos ao redor do mundo sacrificam suas vidas e famílias diariamente para que outros povos possam conhecer a Cristo, mas e quanto a nós que temos tudo e não fazemos nada? Em um país em que as pessoas mal têm roupas para vestir, um obreiro do Pr. Osney que vestia uma roupa social e gravata (note bem: sua melhor roupa), saiu de bom grado do carro onde eles estavam para guiar os irmãos que seguiam dentro do veículo. O obreiro, dizia que não sabia se localizar dentro de um automóvel, mas somente caminhando; disparou a correr mata adentro por quase 8 km para pudessem encontrar o caminho de volta.

O irmão correu com sua melhor roupa durante 8 km em florestas úmidas da África! E pensar que muitas vezes temos dificuldade para arrebanhar voluntários que se disponham a trabalhar como servos em um churrasco da igreja. Aqui não há irmãos que se disponham a serem simples churrasqueiros, “arrumadores” de caixa de gelo, “buscadores” de irmãos na porta da igreja, etc. Lá encontramos irmãos que dão a sua melhor roupa, sua saúde, sua vida....

5 comentários:

Anônimo disse...

É verdade...
desculpe-me não ter o que comentar...Quero me dispor mais, apenas...

Abraços.

Unknown disse...

Sumiste, alpiste..!

Abração
e bom feriado prolongado!

Keep up.

Anônimo disse...

Lindo esse final de seu texto.Como temos tudo e nao fazemos nada. Como gostamos de ser servido do que em servir. Como reclamamos da maneira como outros nos tratam mas tratamo-os de maneira pior. Cada vez que penso sobre isso pergunto: "Deus porque que o mundo é assim. Por que as pessoas agem dessa forma ?" ,é uma indignação tamanha. Esse comodismo. E tambem me pergunto: "Será que eu nao estou julgando o outro e estou fazendo o mesmo? Sera que estou no comodismo?" Peço a Deus para que me tire desse comodismo, me tire a preguisa de servir. Deixe de ser servido. Mas confesso que ultimamente tenho sido mais servida do que sirvo.

Tenhu uma observação a tratar. É lindo, é uma bencao de Deus os missionarios irem a Africa e ajudarem, viver para servi-los. Mas e o Brasil? Muitos tem a vontade de sair do Brasil para fazer missoes mas esquecem que o proprio pais necessita dessas missaos. Muitos apenas sao induzidos a ser missionarios para viajar.(nao digo o caso do pastor comentado). Deus quer missionarios para levar a palavra dEle. Não vejo pessoas saindo do interior e indo para a rocinha(favela) e entre outros lugares que necessitam da palavra de Deus. Só falam de Africa, so buscam a Africa, so querem fazer missao na Africa e esquece que Deus quer adentrar a todos os corações, inclusive de favelados brasileiro, nos nordestinos, e entre outros.

Sempre leio seu blog, escreve muito bem. Deus te deu o dom da escrita, possuidor de palavras. Parabens, cresca sempre nesse caminho.

Unknown disse...

"Anônimo", voce conseguiu escrever o que eu não dei conta!

Unknown disse...

Ah! Esqueci de dizer Sunção que sua ausência tá irritando já! >=(