quinta-feira, 11 de setembro de 2008

A DUCTILIDADE DO EVANGELHO

Geralmente escrevo um texto em uma sentada. Depois de umas duas ou três horas ele sai e vai direto para o blog, mas confesso aos leitores que este texto me tomou muito mais que isso. Aliás... perdi a conta das “sentadas” que levei para finalizá-lo. A cada vez que escrevia surgia uma nova pergunta a ser respondida; perguntas que precisavam ser pensadas, digeridas, ponderadas, para que as idéias fizessem mais sentido.

Queria escrever algo profundo, mas percebi que é melhor deixar a profundidade para os teólogos... pelo menos por enquanto. Vamos falar sobre coisas mais terrenas.

Há palavras que soam bem quando ditas; freqüentemente me pego esquecendo o seu significado e repetindo determinadas palavras apenas para sentir sua sonoridade. Há duas delas que me agradaram muitíssimo e de repente, do nada, começo a repeti-las: “dútil” e “Zagrebelsky”.

Estas palavras estão intimamente ligadas e isto me deixa mais impressionado ainda, ao ponto de questionar “como duas palavras tão bacanas se unem em um fato?”. Pode parecer um pouco de paranóia, um tanto de maluquice e uma pitada de bizarrice, mas já me fiz esta pergunta várias vezes ao ponto de começar a analisar as coisas com base na sua “ductilidade”.

Gustavo Zagrebelsky, constitucionalista italiano e ex-presidente da Corte Constitucional Italiana (órgão máximo do Poder Judiciário Italiano) criou a “Teoria da Constituição Dútil”, a qual ensina que nas sociedades pluralistas atuais, onde há uma diversidade de interesses, ideologias, grupos sociais, projetos, liberdades, as Constituições dos Estados não podem ser rígidas e impenetráveis, traçando um projeto pré-determinado da vida comunitária.

Ao contrário, a Constituição deve ser o ponto de partida para que os diferentes grupos sociais, ideológicos, religiosos, econômicos, dentre outros aspectos, possam criar uma política constitucional que permita a coexistência harmônica de todas estas diferenças.

Esta teoria tem sido bem aceita nos dias atuais em razão da herança negativa da 2ª Guerra Mundial, quando os Governos estabeleceram uma política absolutista onde as “diversidades” eram excluídas, ignoradas ou pior.... levadas para os campos de concentração. Enfim: é uma teoria que combate este pensamento totalitário.

Algum tempo atrás escutei uma pregação que me fez pensar sobre a ductilidade da mensagem que estava sendo ministrada. O preletor falava sobre os erros de outros ministérios evangélicos, sobre suas liturgias, costumes e apresentava a proposta de um evangelho pessoal e “inequívoco”. Ora... o evangelho, bem como toda a Bíblia é inequívoco, mas nem todas as interpretações pessoais da Palavra de Deus são corretas... e particularmente, uma interpretação que exclui quase todas as denominações e um pregador que se auto-afirma como o arauto do cristianismo atual não pode parecer tão correto assim...

E era justamente sob este aspecto que comecei a analisar aquela mensagem, questionando: como alguém pode sustentar uma posição tão rígida em relação às outras denominações protestantes? Como podemos pregar um evangelho único (ou seja, que possa ser unânime em todas as igrejas) neste mundo diversificado?



Esta questão tem surgido na cabeça de muitos cristãos na atualidade, pois é notório o crescimento de denominações evangélicas. Movimentos separatistas defluem das tradicionais denominações por “divergência de visões”. Há uma verdadeira luta entre elas, onde pastores metralham acusações uns contra outros, baseados no que entendem ser o “biblicamente ou doutrinariamente correto”.

Nosso evangelho tem se tornado uma gincana gospel, onde ganha quem tem mais membros, o prédio mais bonito ou a rádio mais tocada...

Apegamos-nos a uma série de liturgias e circunstâncias terrenas para auferirmos o sucesso de determinada igreja e esquecemos da realidade do evangelho. As programações do culto de domingo à noite, as rádios bacanas, os prédios palacianos, os irmãos que desfilam na moda de nada valem se não houver a realidade do Reino. Estas coisas materiais passam, mas a direção do Espírito, a submissão a sua vontade, o foco (ou seja, a obediência à direção de Deus) produzirão frutos eternos.

Mas não é somente sobre essa gincana que quero focar, mas em como conciliar todas estas diferenças em um evangelho único, revelado pelo Espírito Santo. Como atender à oração de Cristo que pediu ao Pai para que fossemos um (Jo.17:20-21), se estamos em meio à esta competição religiosa? Como podemos pregar uma mensagem que estipula modo de vida, fé, revelação, adoração, comportamento, padrão de relacionamentos, santidade em um mundo marcado por uma intensa diversidade social? Estas são as questões a serem encaradas pela igreja atual.

A Palavra de Deus é bem clara quanto ao nosso modo de viver; devemos agir sempre pensando se estamos honrando a Deus naquilo que fazemos. Basicamente devemos ser santos e obedientes aos mandamentos de Deus. Isto é invariável! Não pode ser modificado, pois pecado e santidade se excluem; desobediência e obediência se anulam. Desta forma, são conceitos (condutas) inconciliáveis.

Mas pregar através do reggae, através da dança, teatro, rap, cruzadas, campanhas, são inadmissíveis também? Parece-me que há uma série de vícios religiosos que obstam esta questão na igreja. Irmãos mais tradicionais não aceitam a bateria alta do culto, tampouco o solo da guitarra; irmãos mais liberais se orgulham de terem uma revelação do “vou-andar-descalço-e-vestir-a-camisa-de-Jesus-depois-ir-chupar-picolé” e se esquecem de criar raízes espirituais profundas, crendo que tudo se limita a uma ministração espontânea.

Não quero ser mais um a dar uma “posição teológica indubitavelmente inequívoca, advinda do Santo dos Santos”.

Não sou apto para tal.

Quero apenas desabafar o que sinto ao ver determinadas ministrações onde o alvo não é mundo, o pecado, o erro... mas o pastor da igreja em franco desenvolvimento.

Nem tudo é liturgia, tampouco é ministração espontânea.

Muitas igrejas se prendem em formalismos mil, que engessam seus cultos e não “dão oportunidade” para o Espírito Santo agir; outras acreditam confundem a liberdade no Espírito com puras sensações da alma e baseiam suas reuniões nisto apenas. O curioso é que ambos os grupos se criticam ferozmente. Os mais tradicionais abominam o falar no espírito e a manifestação do Espírito Santo, e os mais abertos dizem que aqueles não os compreendem.

Está aí a necessidade de ductilidade do evangelho.

A vida da Igreja não pode ser resumida em liturgias somente, precisa-se de mais que meros cronogramas para “fazer o culto acontecer”: precisamos do Espírito Santo.

Tampouco podemos viver somente baseado em “ministrações espontâneas”, pois há outras áreas que merecem nossa atenção na caminhada cristã, como o evangelismo, serviço, comunhão, palavra, aconselhamento, discipulado, dentre outras. Agir desta maneira seria como se alimentássemos apenas de feijão. Logo estaríamos doentes por nos faltar outros nutrientes...

Logo, a ductilidade do evangelho em seu caráter positivo ensejaria a necessidade de uma vida cristã, bem como igrejas, que sejam equilibradas; que tenham uma clara direção do Espírito Santo e a sigam; que não percam o foco e, mesmo se isto acontecer, estejam aptas ao arrependimento.

Em síntese: Quebremos toda essa formalidade e deixemos o Espírito Santo determinar o rumo de nossos cultos novamente! Não estou me referindo a uma revolta contra as programações, mas simplesmente uma maior sensibilidade ao Espírito Santo; se Ele disser faça isso ou faça aquilo, apenas faça.

Questionamentos surgem: vale à pena manter as liturgias e costumes denominacionais, mesmo se estes suprimirem a presença do Espírito Santo? Preocupar em programações ensimesmadas? Construir impérios e palácios religiosos sem a direção do Espírito? Será que vale à pena manter uma vida de aparente saúde religiosa, se o SENHOR tem nos chamado ao arrependimento e ao abandono das obras mortas? O orgulho cristão vale mais que isso? Não, para todas as perguntas.

Que as tradições sejam ductilizadas; que as crenças espirituosas de que a ministração espontânea é a panacéia também precisam ser ductilizadas.

Porém, o segundo aspecto, tem um caráter negativo (não me refiro ao sentido de maléfico, mas ao caráter de abstenção): a questão dos “excessos teológicos”.

Como já dissemos, a Palavra de Deus é única e deve ser interpretada a partir da Revelação do Espírito Santo. Ela também é sistemática, ou seja, deve ser analisada por inteiro. Não se pode, com base em versículos distintos, criar fundamentos para condutas que vão contra a Palavra de Deus. Não se pode utilizar a Palavra de Deus para justificar os excessos que podemos cometer. Queria dar dois exemplos, que considero paradigmáticos:

Um garoto, estando em pecado por fornicação, quis justificar sua conduta ao pastor com os seguintes argumentos: Deus é amor. Se Ele é amor e nos manda amar ao próximo, tudo o que é feito com amor não é pecado. Logo, se eu (no caso, o garoto) faço “amor” com a minha namorada, logo não estou pecando! De fato, o rapaz não entendeu que o SENHOR nos chamou à santidade, onde o sexo só tem lugar após o casamento (ex. Hb.13:4).

O segundo é um tema controverso e delicadíssimo. Recentemente li um artigo que dizia sobre a homoafetividade na Bíblia e relatava diversos casos entre relacionamentos do mesmo sexo, como por exemplo, Davi e Jônatas, Jesus e João. A interpretação feita não condiz com a Palavra de Deus onde há uma clara condenação à prática do homossexualismo (Rm1; 1 Co 6.9 – 11; 1 Tm 1.8 – 11). *

Logo, podemos concluir que a Palavra de Deus deve ser o alicerce para que esta ductilidade seja construída; devemos dar contribuições ao Corpo de Deus (Igreja) através da manifestação dos dons espirituais, revelação da Palavra, testemunhos, serviço, porém sempre tendo como fiel a Palavra de Deus, para nos avaliar. Não podemos cometer o erro de fugirmos da base de toda a vida cristã que é a Palavra, o pão que nos alimenta.

Assim, a Palavra dever ser rígida o bastante para sustentar toda a estrutura do cristianismo. Ela não deve ser ductilizada (daí o caráter negativo) para fundamentar excessos (condutas não condizentes com a Bíblia); não pode ser a retórica para “legalizarmos” o pecado.


Conclusão: confesso que esse papo foi um pouco chato, mas estas são realidades da Igreja atual, onde pastores e ministérios terão de se posicionar adequadamente sob o risco de perderem o foco, o primeiro amor, a paixão por almas...

O mesmo se aplica em nossas vidas espirituais individualmente. Sempre é tempo para deixarmos de lado os velhos hábitos que nos impede de crescer e liberarmos o Espírito Santo para que flua em nossas vidas. Uma vida cristã equilibrada é simplesmente ser como Cristo foi: pregou, curou, exortou, amou. Ele é o caminho. Sigamos o Autor e Consumador de nossa fé!



Boa noite!



* Não gostaria de ser interpretado como homofóbico, pois não é esta minha intenção, tampouco o sou. Apenas procuro expor o que a Palavra de Deus diz acerca do tema.





2 comentários:

Unknown disse...

De inicio achei um pouco estranho o tema,ate porque estava presisando saber sobre ductilidade e em suas palavras puder saber o q é d forma diferente,de facil entendimento e ainda rever meu posiçionamento sobre por onde esta seguindo minha FÉ.

Unknown disse...

De inicio achei um pouco estranho o tema,ate porque estava presisando saber sobre ductilidade e em suas palavras puder saber o q é d forma diferente,de facil entendimento e ainda rever meu posiçionamento sobre por onde esta seguindo minha FÉ.